segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poema de Desintoxicação



Em densas noites
com medo de tudo:
de um anjo que é cego
de um anjo que é mudo.

Raízes de árvores
Enlaçam-me os sonhos
No ar sem aves
vagando tristonhos.

Eu penso o poema
da face sonhada,
metade de flor
metade apagada.

O poema inquieta
o papel e a sala.
Ante a face sonhada
o vazio se cala.

Ó face sonhada
de um silêncio de lua,
na noite da lâmpada
pressiono a tua.

Ó nascidas manhãs
que uma fada vai rindo,
sou o vulto longínquo
de um homem dormindo.

(João Cabral de Melo Neto)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
...
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade